O cenário geopolítico internacional está tenso. Conflitos e instabilidades envolvendo Israel, Irã, Estados Unidos e outras potências acendem alertas não apenas no campo diplomático, mas também no econômico e o agronegócio brasileiro, mesmo geograficamente distante, sofre efeito direto.
A globalização dos mercados faz com que decisões tomadas a milhares de quilômetros tenham reflexo direto nos custos de produção, no acesso a insumos, nos preços de commodities e nas relações comerciais. Por isso, entender como esse cenário pode influenciar o agro é estratégico para produtores e organizações do agro.
Volatilidade nos preços do petróleo e combustíveis
A escalada do conflito entre Israel e Irã elevou o preço do barril de petróleo Brent em até 7%, chegando a cerca de US$ 74–75, o que se refletiu imediatamente no aumento do preço do diesel no Brasil (Fonte: Mint, 2025). Isso encarece diretamente o transporte das lavouras, alterando o custo de fretes terrestres e da operação de máquinas agrícolas.
Aumento dos custos de insumos agrícolas
O Brasil importa cerca de 85% dos fertilizantes, sendo que em 2024, 17% da ureia importada pelo Brasil veio do Irã. O conflito gerou elevação imediata nos contratos futuros da ureia, US$ 398 para US$ 430–435/tonelada em poucos dias (Fonte: Exame, 2025) Com menor oferta e preços mais altos, o custo da fertilização das lavouras aumenta, pressionando as margens do produtor.
Mudanças nas rotas comerciais e logística
Devido aos conflitos no Mar Vermelho e um possível bloqueio no Estreito de Ormuz, empresas e transportadores têm evitado essas rotas por questões de segurança, redirecionando seus navios pelo Cabo da Boa Esperança. Esse desvio aumenta a distância em cerca de 13 000 km e pode prolongar o tempo de viagem em até duas semanas, elevando os fretes marítimos.
Esse cenário gera atrasos na chegada de insumos, pressiona os custos logísticos nacionais e encarece o escoamento da produção, impactando diretamente o preço final dos produtos no Brasil.
Volatilidade financeira, crédito e investimento
O ambiente geopolítico incerto aumenta a aversão ao risco, desacelera investimentos, podendo assim, elevar os juros e dificultar o acesso ao crédito rural. Isso pressionará o aporte em tecnologias, infraestrutura e melhoria de processos para eficiência no campo, exigindo planejamento financeiro mais sólido por parte das empresas e produtores.
Mesmo sem ver tropas na porteira, o produtor sente os efeitos dos conflitos: combustíveis e fertilizantes encarecem, a logística global se complica e o cenário internacional se torna cada vez mais determinante para a rotina no campo.
O agronegócio brasileiro é altamente conectado ao contexto global, e as tensões geopolíticas não são apenas tema de diplomacia, mas sinal de alerta para os líderes do setor. Estar informado, antecipar cenários e tomar decisões com base em dados e tendências é indispensável para proteger margens e manter a competitividade.
Se o campo já não é mais o mesmo, a forma de fazer gestão também não pode ser. Ficar atento às movimentações do mundo não é mais uma opção, é uma necessidade estratégica para garantir a resiliência e o futuro do agro no Brasil.